Torres Novas, Correios, quinta-feira, dez de Agosto, dez e meia da manhã e um calor que dispensa qualquer engraçadinho.
Num dia tão quente como os últimos, decidi ir aos correios selar e enviar uma carta, que já andava na mala há alguns dias. A caminho do emprego e já um pouco atrasada, resolvi parar nos correios para resolver esta tarefa. Procurei um lugar de estacionamento (coisa que não é lá muito fácil a esta hora da manhã) e só à terceira tentativa (depois de algumas inversões de marcha e de olhar para um lugar apertado que apanhava a passadeira) encontrei um que – pensei – não me daria chatices com a autoridade.
A caminho dos correios reparei que parava no lugarzinho que eu tinha visto, apanhando a passadeira e de forma bastante pouco preocupada, um automóvel com dois agentes da autoridade. Entrei nos correios e uma miúda que aguardava os pais com um sorriso de verão nos lábios e envergando, de forma orgulhosa, um vestido de flores informou-me rapidamente que “a máquina das senhas não trabalha”. Dirigi-me para a fila imensa para aguardar a minha vez e reparei que atrás de mim tinha entrado um dos agentes que eu vira parar o carro lá fora. Não se colocou na fila e começou a rodear os balcões na esperança – talvez – de que alguém lhe fizesse uma vénia e o atendesse de imediato. Como tal não aconteceu, esperou de forma impaciente que um senhor terminasse de ser atendido. Enquanto isso o casal à minha frente começou, entre dentes e baixinho – e sim e porque isto de confrontar um agente da autoridade pode ser sinónimo de chatices – a comentar o facto do Sr. Agente ter saído da fila. Comentaram, generalizando, que alguns polícias não fazem nada, do caso de uma mota que foi encontrada por civil, enquanto a polícia a procurava, do facto de uma vez para fazer uma queixa, alguém na polícia ter dito que não valia a pena, pois dava muito trabalho e pouco resultado, enfim arrasaram o sistema da autoridade, embora apenas eu os ouvisse. Finda esta conversa, reparei que o Sr. Agente já estava cada vez mais impaciente e preparava-se para exercer a sua autoridade, quando o balcão ficou livre. A funcionária dos correios, fingindo não ter visto o que se passa, perguntou: “Quem está a seguir?”, pergunta que o agente nem respondeu, dirigindo-se de imediato para o balcão. Naquela altura, os cochichos começaram a ouvir-se, mas apenas eu questionei em voz alta o facto do agente tinha entrado depois de mim e que por isso deveria esperar pela sua vez. Muito admirado, olhou para mim e disse-me que era uma agente da autoridade e estava de serviço. O resto nem vale a pena contar, a verdade é que ele foi atendido e saiu da estação primeiro que todos os que esperavam pela sua vez. Como tento ser uma pessoa mais positiva, e até estamos no verão, tento ver nestas pequenas coisas do dia a dia ensinamentos que possa um dia transmitir. Assim, conclui que em Agosto, em Torres Novas, os únicos que trabalham são os agentes da autoridade – embora os vejamos tão pouco. Aprendi com isto que uma farda dá direito a ser atendido imediatamente – tenho de procurar a farda do meu pai quando ele trabalhou na marinha, talvez a minha vida seja mais facilitada, quando tiver de me dirigir aos serviços públicos…. Aprendi também que o poder exerce-se até numa fila dos correios, pois se eu posso, eu quero… Aprendi que há uns que se fazem parecer mais importantes que outros, quando deveriam dar o exemplo da boa convivência, da tranquilidade e da segurança… Aprendi que as forças de segurança podem parar quase em cima da passadeira, para irem aos correios… Aprendi que as forças de segurança – segundo o mesmo agente da autoridade – têm um protocolo com os correios para serem rapidamente atendidos. Pena que nos correios ninguém saiba de nada, será que foi assinado apenas por uma das partes…. Aprendi que são os agentes de giro que fazem trabalho de estafetas…. E aprendi que neste país qualquer um, se puder passa à frente dos outros.
html
Pesquisar neste blogue
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário